segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O direito à vida

O direito à vida de jovens em conflito com a lei
VIII Jornada de Psicologia da PUC
abril de 2008

Setor de Atendimento ao Adolescente em Situação Especial - SAASE

Histórico

1927 – Código de Menores – Delinqüentes/Abandonados

Desde a modernidade, com os saberes disciplinares, haverá um deslocamento do eixo da universalidade e anterioridade da lei para o eixo que tende a relativizá-la, tendo como referência a norma. (Foucault, História da Loucura, p. 133)

O aparelho jurídico passa a compartilhar a função de julgar com outros saberes - as ciências humanas.

Função do Juiz – abrir novo espaço, convocar outros saberes.

Trabalho dos profissionais – as práticas traduziam um caráter positivista e moralista – de uma apreensão moral do menor passou-se para o entendimento “científico” com o propósito de identificá-lo e enquadrá-lo em uma classificação, revelando uma redução positivista do diagnóstico e do tratamento.

Princípio – regenerar, transformar os delinqüentes em cidadãos úteis à sociedade.

Causa do ato infracional – dizia respeito a características individuais do adolescente; a família e a sociedade eram isentas de qualquer responsabilidade pela “conduta desviante” do menor.

Setor de Atendimento ao Adolescente em Situação Especial - SAASE

Histórico

1979 – Novo código de menores - Doutrina da situação irregular

Política assistencialista fundada na proteção do menor abandonado ou infrator

Até a década de 1980 as legislações de menores foram impregnadas pelos princípios da Doutrina Irregular, praticamente hegemônica na América latina. (Emílio Garcia Mendes)

Juizado de Menores de Belo Horizonte

Serviço Social – 1954 – Ligadas à “Assistência Social”

Setor de Psicologia – 1980 – Oriundo da Secretária do Interior e Justiça

Setor de Psiquiatria – 1982 – Idem

Competia ao Setor Técnico

Internamento, guarda, tutela, ocorrência envolvendo menores de rua, situação irregular ou de abandono, infração e maus tratos.

Setor de Atendimento ao Adolescente em Situação Especial - SAASE

Histórico

1990 – ECA – Doutrina da Proteção Integral

1980 - Mobilização intensa que culmina e debate sobre os diversos aspectos da infanto-adolescência

1988 – Constituição Federal

Regras e diretrizes Internacionais

1985 – Regras de Beijÿng –

1990 – Regras mínimas das nações unidas para proteção de jovens privados de liberdade e Diretrizes de Riad para à prevenção da “delinqüência juvenil”.

1990 - Doutrina da Proteção Integral

Partilha do entendimento de que a criança e o adolescente terão assegurados, além dos direitos inerentes a todo ser humano, direitos especiais e pertinentes à fase da vida em que se encontram.

Dez/1994 – Juizado de Menores de Belo Horizonte se transforma em Juizado da Infância e Juventude de Belo Horizonte (passa a funcionar na Av. Olegário Maciel, 600)

Equipe – Concurso público para o cargo de “Técnico Judiciário” – Equipe interdisciplinar.

A Lei e a Clínica


Das Medidas Sócio-Educativas
Seção I
Disposições Gerais
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I.
advertência;
II.
obrigação de reparar o dano;
III.
prestação de serviços à comunidade;
IV.
liberdade assistida;
V.
inserção em regime de semi-liberdade;
VI .
internação em estabelecimento educacional;
VII .
qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.

Das Medidas Específicas de Proteção
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo.
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.

Histórico

1993 – Reestruturação da equipe do setor técnico: Cívil e Infracional

Juiz titular – Dr. Tarcísio Martins José da Costa

Convocou o setor técnico a estudar os textos jurídicos: “JIJ é uma côrte”

Setores técnicos

SCFS – Setor de Colocação em Família Substituta (com a divisão das vara da infância em Cívil e Infracional) - Setor de Estudos Familiares – SEF Vara Cívil.

SOFES – Setor de Orientação e Fiscalização às Entidades Sociais – Vara Cível

SAASE – Setor de Atendimento ao Adolescente em situação Especial
»
Elaboração de estudos, acompanhamento de adolescentes em medida de Liberdade Assistida. Realizávamos atendimento individual e em grupo aos adolescentes e aos seus familiares. Grupos temáticos (com profissionais da equipe e com outros convidados) que trabalhavam temas de interesse deles (sexualidade, drogas, etc.). A
»
Acompanhou casos com a medida de Prestação de Serviço à Comunidade (em 1996(7)- a PSC passou a ser acompanhado pelo SOFES)
»
Acompanhamento do cumprimento de medidas protetivas, em processos infracionais e em processos de providência – importância protetivas – “prevenção” no judiciário.

Histórico

1993 – Reestruturação da equipe do setor técnico: Cívil e Infracional

Setores técnicos

SAASE – Setor de Atendimento ao Adolescente em situação Especial
»
Projeto com os comissários voluntários – orientadores para os jovens em cumprimento (equipe SAASE acompanha o cumprimento da medida).
»
Desde essa época mantemos reuniões semanais da equipe.
»
Quatro comissários na equipe – realizavam sindicância além de outras funções.
»
Foram realizadas supervisões entre as quais com o professor Célio Garcia por cerca de 5 anos (livro Psicologia jurídica)
»
Estudos sobre família
»
Plantão: atendimento adolescentes vindos diretamente da audiência visando agilizar o atendimento e evitar descumprimento. Atendimento demanda espontânea de casos acompanhados no setor ou na Vara infracional.
A abordagem e o nível de intervenção dependiam da formação de cada técnico (psicanálise, teoria sistêmica, etc.), da indicação e demanda de cada caso, assim das delimitações da medida.

Histórico

1998 – Convênio com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento

Programa “Liberdade Assistida” constituído a partir dos dados da SAASE – iniciou com as 5 Regionais de maior incidência desse tipo de medida.
»
Elaboração do projeto em conjunto com equipe da PBH

Atuação da SAASE
»
1º atendimento
»
Intervenções no caso e/ou na família do jovem, quando solicitado pelo técnico do programa visando visando evitar a interrupção do cumprimento da medida.
»
Favorecer inclusão escolar, em tratamentos saúde e outros quando necessário.
»
Encontros semanais entre os coordenadores das equipe da PBH e JIJ e anual entre as equipes.
»
Fiscalização do cumprimento das medidas através dos relatórios e dos encontros entre os técnicos do programa e do SAASE. Organização dados e estatística do setor.

2004 – Programa de Prestação de Serviços à Comunidade - passou a ser executado pela PBH.

2006 – Função da SAASE

Assessoria técnica à Vara Infracional da Infância e Juventude – medidas sócio-educativas em meio aberto

2007 - Equipe:

9 Assistentes Sociais

3 Psicólogos

2 Estagiários de Psicologia

1 Estagiário de Serviço Social

1 Comissário

Frentes de atuação

Encaminhamento e Acompanhamento

Medidas sócio-educativas de Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade;

Medidas Protetivas sem as medidas sócio-educativas.

Frentes de atuação

Execução

Estudos de caso

Além das respostas por escrito, a equipe busca intervir nas situações necessárias e emergenciais ( Ex. Caso X atendido por Simone e Milene) – a atuação foi viabilizar a consulta psiquiátrica – intervenção com os pais e, com a equipe do centro Psicopedagógico e, com ele ao telefone “ Se eu for ao médico vai adiantar minha questão com a justiça?” (sic)

A equipe busca construir respostas que possam ter eficácia sobre o real do caso.

Reparação de danos

Medidas sócio-educativas por determinação judicial ou indicação técnica

Grupos multi-familiares

Plantão

1ª entrevista após a audiência

Demandas espontâneas

Tipos de atos infracionais cometidos por adolescentes em 1999 e 2005 em Belo Horizonte

(vou colcar o quadro)

Adolescentes com medida de Prestação
de Serviço à Comunidade – PSC - 2006
Fonte: SAASE – Juizado da Infância e Juventude de Belo Horizonte
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
Número de adolescentes
que já usaram algum tipo de droga
20 de 49 =
40,82%
30 de 64 =
46,86%
14 de 43 =
32,46%
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
Número de adolescentes
que relataram estarem ameaçados de morte
2 de 49 =
4%
3 de 65 =
5%
4 de 41=
10%

Uso de drogas - LA

Dados apurados
de janeiro a junho de 2007
Nunca usaram drogas
166
Já fizeram uso de drogas
548
Total
714

Porcentagem / uso de drogas
23% Nunca usaram drogas
77% Já fizeram uso de drogas

Tipos de drogas experimentadas - LA

Dados apurados
de janeiro a junho de 2007
Crack
41
Cocaína
74
Maconha
334
Lolo
17
Thinner
32
Total
498

Família e Toxicomania

Cristina S. Pinelli Nogueira

 Família
 A vida familiar apresenta-se em praticamente todas as sociedades humanas, mesmo naquelas cujos hábitos sexuais e educativos são muito distante dos nossos”
 “ ... a família, ao repousar sobre a união mais ou menos duradoura e socialmente aprovada de um homem, de uma mulher e de seus filhos, é um fenômeno universal, presente em todos os tipos de sociedade”
(“La famille” – Claude Levi-Straus citação do livro – A família em desordem – Elizabeth Roudinesco, p. 13)
 Família

 Vertente sociológica, histórica ou psicanalítica – estudo vertical das filiações e gerações – “família”
 Vertente antropológica, descrição horizontal, estrutural ou comparativa das alianças – “parentesco”
 Cada sociedade define os laços matrimoniais entre os grupos sociais
 Proibição do incesto – necessária à constituição da família
 Instituição humana duplamente universal – associa um fato de cultura a um fato de natureza

 Família

 Três períodos de evolução da família

 Tradicional
 Moderna – séc. XVIII e XX
 Contemporânea – a partir de 1960 ou pós-moderna


 Família
 Decisivo – democratização das técnicas anticoncepcionais
 Mulheres – inclusão da satisfação sexual entre os requisitos da escolha do cônjuge
 “A família mudou, mudaram os papeis familiares, mas não foi substituída por outra forma de organização molecular”
(Rita Kehl, p. 168)
 Família
 Séc. XXI – Laços Conjugais – sustentação base erótica - instável

 Família Tentacular – irmãos não consangüíneos convivem com “padrasto” ou “madrasta”, às vezes de uma segunda ou terceira união de um dos pais, acumulando vínculos profundos com pessoas que não fazem parte do núcleo original de suas vidas.
(Rita Kehl, p. 169)

 Funções da família

 Desamparo do ser humano
 Função mãe
 Lugar
 Amor
 “Maternagem” – cuidados
 Linguagem
 Interdição


 Funções da família
 Função pai
 Lugar
 Amor
 “Paternagem”
 Transmissão – nome – herança
 Identificação
 Significação fálica
 Transmissão de um desejo que não seja anônimo

 Funções da família
 Sujeito do inconsciente – sujeito do desejo
 “ A psicanálise pode e deve ser vista como uma tentativa de pensar a questão da identidade da criança em face de variedade de figuras parentais, já que não nos limitamos a uma referência única”
(Célio Garcia – Psicologia Jurídica – Operadores do Simbólico, p. 297)
 “A fala da mãe sobre o pai é decisiva; esta instaura o terceiro termo marcador de uma instância outra, estranha à fusão mãe/filho. A instância outra a que me refiro é de ordem simbólica”
(Célio Garcia – Psicologia Jurídica – Operadores do Simbólico, p. 298)

 Funções da família
 “... Se existir para a criança alguém que faça função paterna e alguém que se encarregue amorosamente dos cuidados maternais, a família estruturará edipicamente o sujeito”

(Rita Kehl, p. 169)

 Droga
 Significante
 Particular – Lugar na economia de cada sujeito
 Nova forma sintoma
 Modo de gozo – atinge o Outro
 “Infantil” – dependência
 Lugar da droga e do toxicômano para cada familiar
 Intrincamento uso de drogas x relações familiares
 Usuário – Filme: “Bicho de 7 cabeças”
 Toxicômano – Filme: “Meu nome não é Jonny”

In treatment - Em Terapia (Série Terapêutica)

Vi todos os episódios da série In tratment ou Em Terapia (HBO) da 1ª temporada e achei muito interessante. Quero assistir os episódios da 2ª temporada. Ah, os da 1ª tenho todos.

Segue abaixo...

Sinopse: A inovadora e emocionante série In Treatment focaliza com dinamismo uma parte básica da sociedade moderna: a sessão de psicoterapia. Baseado em popular seriado israelense, o programa acompanha a semana de trabalho do psicanalista Paul Weston, mostrando a cada noite uma sessão com seus pacientes – Laura, Alex, Sophie e o casal Jake e Amy – e, às sextas-feiras, mostra a visita de Paul ao consultório de Gina, sua própria psicanalista. Invadindo a mente confusa de um homem cuja profissão é aconselhar os demais, In Treatment oferece uma intricada visão sobre os profissionais nos quais confiamos para obter nossa própria perspectiva.
In Treatment se baseia no seriado Be ‘Tipul, criado por Hagai Levi, com Ori Sivan e Nir Bergman. .


Canal EUA:HBO
Canal Brasil:HBO
Temporada: Primeira
Episódio:01, 02 e 03
Estréia no EUA: 28/01/2008
Estréia no Brasil: 12/05/2008
Criadores: Hagai Levi
Diretores Primeira Temporada: Rodrigo García, Paris Barclay, Chris Misiano e Melanie Mayron
Escritores Primeira Temporada: Rodrigo García, Nir Bergman, Hagai Levi, Ori Sivan, Sarah Treem, Merritt Johnson, Amy Lippman, Bryan Goluboff, Davey Holmes, Asaf Tzipor e Daphna Levin

Elenco Fixo Primeira Temporada: Gabriel Byrne (Paul), Dianne Wiest (Gina), Michelle Forbes (Kate), Mia Wasikowska (Sophie), Blair Underwood (Alex), Embeth Davidtz (Amy), Josh Charles (Jake) e Melissa George (Laura) .




domingo, 28 de agosto de 2011

A ilusão de um futuro

A ilusão de um futuro
Um embate amigável com o prof. Dr. Sigmund Freud*
Oskar Pfister*

Caro professor,

Com a amabilidade com que me acostumou nestes dezenove anos de trabalho conjunto, o senhot declarou que seria desejável que eu apresentasse ao público meus argumentos contra o livreto O futuro de uma ilusão, e com uma liberalidade que é natural para sua forma de pensar, colocou à minha disposição para esta finalidade um dos periódicos editados pelo senhor. Agradeço-lhe afetuosamente por esta nova prova de amizade, que não me surpreendeu de modo algum. Desde o princípio o senhor não fez nenhum segredo a mim e a todo mundo acerca da sua decidida incredualidade, de modo que sua profecia atual de um futuro sem religião não traz nenhuma nenhuma novidade. E o senhor há de sorrir diante do fato de que considero o método psicanálitico criado pelo senhor um meio grandioso para depurar e desenvolver a religião, assim como o senhor sorriu no tempo da carestia, quando caminhávamos em meio às nevadas pelas trilhas de Beethoven nos altos de Viena e mais uma vez não conseguíamos convencer um ao outro neste ponto, como já em anos anteriores, por mais prontamentemente que em outras ocasiões eu sentasse a seus pés, repleto dos tesouros e bênções de sua riqueza de espírito.
Seu livro significou para o senhor uma necessidade íntima, um ato de honestidade e de coragem confessional. A titânica obra da sua vida inteira teria sido sem destroçar as imagens de ídolos, mesmo que estivessem situadas em universidades ou átrios de igrejas. Cada pessoa que desfruta da felicidade de estar próxima do senhor sabe que pessoalmente o senhot serve à ciência com veneração e fervor, pelo que seu gabinete é elevado a templo. Dito francamente: tenho a firme suspeita de que o senhor combate a religião - a partir da religião. Schiller lhe estende calorosamente a mão fraterna; será que o senhor a recusará?
Ainda mais do ponto de vista da fé, não vejo nenhum motivo para concordar com a gritaria de alguns vigilantes de Sião. Afinal, quem lutou de modo tão gigantesco pela verdade e brigou tão heroicamente pela redenção do amor, este é, quer queira sê-lo ou não, segundo os parâmentros do evangelho, um fiel servo de Deus. E não está longe do reino de Deus quem, pela criação da psicanálise, elaborou o instrumento pelo qual são serradas as cadeias das almas sofredoras e são abertas as portas do cárcere. Desse modo podem correr à terra ensolarada de uma fé vivificante. Jesus contou uma bela parábola de dois filhos, dos quais um, prometendo obedientemente ir à vinha do pai, não mantém a palavra, e o outro, rejeitando obstinadamente a ordem arbitrária do pai, ainda assim cumpre o mandamento (Mt 21,28ss). O senhor sabe com quanta alegria o fundador da religião cristã prefere o último. O senhor guardará rancor de mim pelo fato de que, apesar de sua pretensa descrença, eu o veja figuramente mais próximo do trono de Deus - o senhor, que colheu tão maravilhoso raios da luz eterna e se desgstou na luta pela verdade e pelo amor aos homens - do que a muito clérigo murmurrador de orações e realizador de cerimônias, cujo coração nunca ardeu pelo conhecimento e bem-estar humano? E, como para os cristãos orientados no evangelho tudo o que importa é fazer a vontade divina e não o dizer "Senhor, Senhor", compreende o senhor que também eu queria invejá-lo?
Não obstante, volto-me com toda a determinação contra sua apreciação da religião. Faço-o com a modéstia conveniente ao inferior, mas também com o contentamento com que se defende uma causa santa e amanda, e com o rigor da verdade, que foi fomentado por sua austera escola.
Contudo, faço-o também na esperança de que ficaram refratários à psicanálise com a rejeição da fé religiosa pelo senhor, voltem a contrair amizade com essa ciência, como método e síntese de reconheciementos empíricos.
Por consequência, não viso a escrever contra, mas a favor do senhor, pois que vai para as barricadas em favor da psicanálise luta pelo senhor. Entranto luto igualmente a seu lado; pois não há nada mais firme em seu coração, como no meu, do que derrotar a ilusão através da verdade.
Um tribunal superior decidirá se o senhor com o seu O futuro de uma ilusão, ou eu com A ilusão de um futuro chegamos mais perto do idela. Nós dois não nos cingimos com o manto de profeta, mas nos contetamos com o papel mais humilde do meteorologista; embora também meterologostas possam se enganar.
Com afetuosas saudações,
seu Pfister

Sites importantes!

Associação Brasileiria de Psicanálise
www.abp.org.br

Escola Brasileira de Psicanálise - EBP
www.ebp.org.br

CBP
www.cbp.org.br

Jorge Forbes
www.jorgeforbes.com.br

www.ebp.org.br/PDF
Robson_Campos_supervisão terminável e interminável.

Psicanálise e Religião

Veio-me a memoria, o trabalho que fiz sobre o tema Psicanálise e Religião da disciplica Psicanálise e Religião do professor Rodrigo Zannata. Não consegui achar o trabalho que havia imprimido nem um livro (da doutrina espírita Kardesista) que usei como referência. Mas tinha escrito uma citação numa agenda, então estou postando aqui...

"A religião para Freud: é nada mais que uma "ilusão" moldada pelas experiências infantis".

A religião:
"Ao psicianlista interessa "o paciente pode acreditar em Deus". O problema é terapêutico quando impregnados de elementos irracionais que lhes conferem o caráter obsessivo-compulsivo, oculta às vezes por trás do ritual, que preocupa o psicanalista não pe o que há de sádio, mas o que há de mórbido, na religião do paciente, que urge modificar. A religião baseada no amor e na verdade".

Impertinências

Texto de Francisco Paes Barreto, de Belo Horizonte, que figura na "home" da Escola Brasileira de Psicanálise (wwww.ebp.org.br). Enviado pelo prof. Robson Campos da pós em Psicanálise.
Boa leitura a todos.

Impertinências

Pergunta:
Em que condição o psicanalista sugere o uso de antidepressivo?

Resposta:
É uma constatação: os psicanalistas, quase que sem exceção, encaminham analisantes para serem medicados por psiquiatras, em algumas situações. O que não quer dizer que seja um procedimento bem definido e resolvido; pelo contrário, trata-se de algo sobre o qual pouco se escreve, pouco se formaliza. O que se segue são algumas de minhas reflexões sobre o tema.
Tomarei o exemplo da depressão, que, para a psicanálise, é um sintoma. Ela pode ser abordada pela vertente sofrimento (que a psicanálise chama de gozo do sintoma) ou pela vertente do enigma (a pergunta, ou aquilo que faz questão para o sujeito: o que é que está acontecendo comigo? Por que é que algo comigo não funciona, não anda?).
Quem apresenta o sintoma pode querer, única e exclusivamente, se livrar do sofrimento que ele acarreta. é a demanda terapêutica.
Uma demanda de análise pressupõe, além da expectativa de alívio, que se queira levar a sério o enigma do sintoma, ou seja, que se busque um saber sobre o enigma do sintoma. Um pergunta, agora, se insinua: por que, nesse contexto, indicar um psiquiatra para a medicação antidepressiva?
Creio haver uma única resposta: quando o analista considera que, mais do que contribuir para os propósitos de uma análise, o sofrimento de uma depressão está servindo para dificultá-los, ou mesmo para travá-los.
Pode ser uma conclusão simples, mas, é decisiva. Acaba, de vez, com o preconceito segundo o qual a psicanálise e psicofármaco são inconciliáveis.
O problema, porém, continua: que psiquiatria indicar fazê-lo? Sério problema! Terá que ser um psiquiatra que concorde com, pelo menos, dois pontos básicos. (1) O lugar do psicofármaco: não é de ator principal, mas de coadjuvante. (2) A função do psicofármaco: não se trata de "eliminar o sintoma", mas de moderar o gozo.
As exigências mencionadas sugerem que se deva indicar um psiquiatra que esteja em análise, quando não houver um psiquiatra psicanalista. Existe ainda a possibilidade de a análise estar sendo conduzida por um psicanalista que é também psiquiatra. Ele pode fazer duas coisas, desde que saiba o que está fazendo (ou de que lugares está operando) e o analisante também. O medicamento pode não ser anti-analítico, mas é não analítico.
O que estou propondo foi, a meu ver, entrevistado por Freud, que, certa feita, afirmou: "Esperamos que o futuro nos ensine a agir diretamente, com a ajuda de substâncias químicas,sobre a quantidade de energia e a sua distribuição no "aparelho psíquico". É possível que descubramos, então, outras possibilidades terapêuticas, ainda insuspeitas". Ora, o que Freud propõe é o psicofármaco como regulador do gozo.
Na minha apreciação, o futuro previsto já há algum tempo chegou.
Francisco Paes Barreto

Psicanálise e Toxicomanias

A toxicomania para Hugo Freda é uma das maiores representantes das novas formas do sintoma produzidas pela modernidade, é uma resposta do sujeito ao não querer saber sobre sua divisão, a não querer saber do inconsciente, é uma tentativa de anulá-lo.

Para Pacheco "Ao esquivar-se da causa do desejo, o toxicômano produz, com a droga uma ruptura dos laços com o Outro, o Outro da linguagem, produtor dos efeitos de singularidade que o inconsciente inscreve para o sujeito, esclarecendo-se, desse modo, a segregação do inconsciente como tentativa do toxicômano manter-se segregado do "dizer"."

Como na forma do sintoma a toxicomania apresenta-se como uma ruptura com a lei, uma alternativa ao sintoma, não implicando o sujeito a lidar com a questão fálica, pois esta se dá pela via do gozo do corpo. É um gozo auto-erótico, fazendo surgir um personagem e não um sujeito, o personagem "eu sou um toxicômano, é um sujeito definido por uma prática.

é importante saber qual razão a função da droga para o sujeito, ela pode servir como um não enfrentamento com a angústia da significação fálica, colocando-se no lugar do objeto causa do desejo o objeto do gozo.
A toxicomania opera no sujeito não como fator de estrutura que culmina com o recalcamento ou a floraclusão, mesmo estando presente um sofrimento intolerável para este. Observa-se que esta substitui um elaboração psíquica diante do intolerável.

Lygia Bittencourt enfatiza a dificuldade para o estabelecimento de um diagnóstico de estrutura, pois o sujeito cristaliza-se no significante "sou toxicômano".

O papel da análise ganha importância como trabalho das entrevistas preliminares, com o próprio nome diz trata-se de algo preliminar ao trabalho propriamente dito da análise com o intuito de relançar, recolocar o discurso do sujeito concomintante ao estabelecimento da transferência na relação do sujeito com o analista. O analista adia o início da análise para que as demandas inicialmente apresentadas, sejam realmente ou como diz Lacan, interrogadas.

Por ser constituir em um campo tenso e com outros discursos, o analista deve romper com o discurso médico, com o querer curar o paciente e lançar-se num compasso de espera, de sustenção diante das inúmeras quedas, recidivas, atuações do toxicômano.

O analista tem como trabalho implicar o sujeito na sua queixa, pois comumente este procura a análise porque terceiros demandaram o atendimento, trazendo por traz da demanda alhria já um início do fracasso da onipotência da droga para o sujeito. É necessário inverter o discurso do que quer o outro para mim, para que eu quero para mim, para o que eu sou responsável. Lacan diz de uma retificação subjetiva.

A análise não deve e não é para livrar-se do sintoma, isto pode vir a acontecer como consequência, mas deve possibilitar ao sujeito indagar sobre o porquê desse sintoma, fazendo com que o não querer saber do seu inconsciente possa transformar-se em questão, em enigma. Ela deve por o sujeito a trabalhar em busca dos seus significantes primordiais, tomando uma nova posição diante da palavra.

Psicanálise e Saúde Mental

Breve comentário a partir dos textos de Miller, Barreto e Lobosque, sobre as aproximações e distanciamentos da Psicanálise com o Campo da Saúde Mental.

Comentar a relação entre a psicanálise e saúde mental é fazer um recorte diante da extensão e complexidade destes dois saberes e práticas. Os autores Miller, Barreto e Lobosque lançam questões importantes para serem discutidas.

Pensamos sobre os conceitos psicanalíticos norteadores da prástica psicanalítica, a articulação da psicanálise com os saberes médicos-psiquiátricos, buscar outros dispositivos para o tratamento da saúde mental. Sobre a história da clínica psiquiátrica, o moviemnto reformista (antimanicomial) da Psiquiatria na contemporaneidade (humanizar o trabalho no serviço publico) saber qual o lugar (reservado) a clínica psicanalítica em outros assuntos importantes.

Qual seria o objetivodo trabalho do serviço público? Poderíamos dizer que seria dar conta da exclusão (?). Qual o discurso da Psicanálise? O pensamento inconsciente, a singularidade do sujeito, o sujeito capaz de responder, ao passo que a saúde mental pressuporia, de lado do paciente, uma incapacidade de resposta. O sujeito se responsabiliza por seus atos. Na verdade, o que a psicanálise faz é a aposta no sujeito. Não promete cura.
Sobre a clínica com psicóticos apresenta como problemática, difícil...deve ser revista a partir de suas particularidades, as particulariades de cada discurso, cada caso é um caso. O mito (devemos desmitificá-lo) de que as psicoses são assunto exclusivo dos psiquiatras deve cair por terra. Segundo Lacan, nãso se deve retroceder frente à psicose. Mas as dificuldades técnicas que são difíceis de superar parece ser o fator dificultador para o analista (o analista deve rever sua posição subjetiva). O analista através do discurso analítico deve sem medo das interpelações que lhe possam vir com relação à sua prática intervir onde constatar pra´ticas segregativas do sujeito ou sua exclusão.
Sobre saúde mental e ordem pública o objetiva é promover a reintegração do sujeito a comunidade social. O papel da antipsiquiatria no texto de Foucault seria escutar a voz da desrazão. Onde está a loucura? Seria preciso tratar a família também e não só o sujeito. Está no social?
Saúde mental tem muito a ver com a política de saúde pública. O trabalho do serviço mental (atual) esbarra com o direito do sujeito em receber um atendiemtno humanizado. A definição de saúde mental da Organização Mundial de Saúde (OMS) está completo quanto ao físico, ao mental e ao social. Coloca-se por princípio em oposição à falta-a-ser do sujeito e ao mal-estar da cultura. Lembramos o sintoma e suas novas formas.
é necessário pensar questões como a equipe de trabalho na saúde mental, o discurso da saúde mental e ordem pública, a psicanalise, as políticas públicas da saúde mental. Pensar a conexão psicanálise-saúde mental.
Discutir conceitos como diagnóstico estrutural, medicação, cáculo da clínica e a direção do tratamento. Transformar a instituição (serviço público)num espaço, num lugar de mais discursos onde o discurso analítico possa ser levado ao serviço público, no campo da saúde mental. A fim de contribuir para o campo da psiquiatria (na descrição e classificação dos transtornos comportamentais) através da psicanálise aplicada ao campo da saúde mental.
Surge um novo conceito de saúde mental e o resultado de uma reorganização (reestruturação) do campo da psiquiatria. Importante pensarmos uma cultura onde psquiatras, psicológos e psicanalistas dêem mais importância para o tratamento integrado entre psicanálise e psiquiatria. Entendemos que essa integração nos levam a pensar questões como a função do analista, a posição do analista como sendo o lugar do Outro do saber, o laço com o analista, a psiquiatria... para mais discussões que ajudem a melhorar a prática profissional na saúde mental.

sábado, 27 de agosto de 2011

Psicanálise com crianças e adolescentes

Este trabalho é uma pequena síntese do que foi assimililado do texto estudado e um pequeno recorte de um amplo e complexo saber sobre a psicanálise infantil e as dificuldades de aprendizagens relacionadas aos conflitos psiquícos. (continuação do texto em breve)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Cinema

7 elementos estruturais em Corra, Lola, Corra

Lola e a coluna de freiras em uma de suas corridas
1 Valério Fiel da Costa · São Paulo, SP

17/12/2006 · 85 · 3 O filme “Corra Lola, Corra” pode ser considerado uma daquelas produções cinematográficas onde cada elemento tem função estrutural fundamental. Antes dos créditos iniciais, surge na tela uma carranca que logo identificamos como um pêndulo de relógio. Segue-se uma figura de um relógio monstruoso que nos abocanha. A música inspira um suspense típico de filmes de terror: acorde dissonante suspenso predominantemente no grave. Dessa forma o diretor apresenta o personagem principal da trama: o tempo. Depois estamos num campo neutro cheio de indivíduos anônimos onde, vez por outra alguma figura é destacada “ao acaso” e somos obrigados a reparar nela e atribuir-lhe qualidades. Os personagens destacados são todos atores que participam do filme. É a maneira do diretor os apresentar como pessoas colhidas da multidão. O último destaque é o segurança do banco do pai de Lola que chuta uma bola para cima. A câmera sobe como se representasse a visão da bola para a multidão lá embaixo e todos se reposicionam, fundindo-se, formando no chão, a frase Lola Rennt (Corra, Lola) que é o título original do filme. Pequenas ocorrências aparentemente insignificantes contribuindo para a construção do todo. Surgem os créditos onde Lola é retratada como um desenho animado em desabalada corrida enfrentando inúmeros perigos no percurso. Entre eles, um relógio monstruoso. A personagem dá socos nos créditos e alguns deles, ao acaso, transformam-se em monstros ou coisas do tipo. Uma cena de videogame com trilha sonora tecno.

Todo o filme é estruturado a partir de algumas constantes temáticas: a idéia da repetição, dos relógios, da influência do acaso, do número 20, da cor vermelha, da espiral e da relação entre gritos e vidros quebrando. Essas figuras servem como costura essencial para o filme e conferem a ele uma unidade sólida.

Para falar sobre cada um desses itens e da maneira como cada um deles está manifesto no filme, vou realizar uma operação de acaso que definirá a estrutura dessa parte do trabalho...

acaso - um dos mais importantes elementos temáticos do filme. A sua estrutura ternária serve para mostrar o quanto pequenas mudanças aleatórias de conduta, observadas em perspectiva, podem acarretar em significativas alterações no futuro. Lola tem 3 chances para salvar Manni dos gangsters e em cada oportunidade, devido a pequenos detalhes, os resultados variam entre o desastre de causar a própria morte ou do namorado e a possibilidade de resolver o problema e ainda ficar com o dinheiro. Em várias oportunidades durante o filme, quando Lola de alguma forma intercepta outros personagens, surgem os flashfowards: são rápidas seqüências fotográficas que representam cenas do futuro de cada pessoa interceptada e que pretendem mostrar para o espectador que dependendo da maneira como Lola os aborda, seus futuros tomam caminhos totalmente diferentes. A senhora com o carrinho de bebê, por exemplo, na primeira corrida acaba perdendo a guarda do bebê, enlouquecendo e tornando-se uma seqüestradora de crianças; na segunda corrida, ganha na loteria e na terceira corrida, acaba se filiando a uma seita religiosa. Nas escadarias de seu apartamento, logo no começo das corridas, dependendo da maneira como a protagonista interage com o menino com o cachorro – simplesmente se esquivando com medo, enfrentando-os e sendo derrubada escada abaixo ou voando por sobre os dois – interfere consideravelmente no desenrolar de cada corrida; A secretária Jutta só tem tempo de dizer ao pai de Lola que o seu filho não é dele quando, por acaso, Lola se atrasa na segunda corrida devido ao tombo nas escadas do seu prédio e, como na primeira corrida, distrai Herr Meier, momentos antes, na saída de sua garagem – ele estava se dirigindo ao banco para pegar o pai de Lola - fazendo com que o seu carro colida com outro na rua; é o acaso que permite a Lola salvar o homem na ambulância na terceira corrida, que faz com que ela se dirija ao cassino, para que, apostando no acaso (na roleta), ganhe os 100 mil marcos. Vale observar que a chave para tantas variantes se encontra em grande medida nas mudanças de atitude de Lola frente à missão que tem pela frente. O diretor constrói o personagem não como alguém que vive uma mesma situação 3 vezes, mas como alguém que possui 3 chances de alcançar o sucesso: um personagem de video-game com 3 “vidas”! Lola parece aprender com as experiências passadas a evitar novos erros fatais.

Repetição – outra referência fundamental dessa produção. Temos uma estrutura formal onde a mesma situação é repetida 3 vezes, como já foi dito antes, até que a protagonista consiga alcançar o seu objetivo; ao telefone, na introdução, Lola e Manni repetem várias vezes a palavra die Tasche (a bolsa) quando é relatada a situação da blitz no metrô; o tique-taque dos segundos que restam para o fim do prazo estipulado, onipresentes, soando subliminarmente; os passos de corrida de Lola; a fotografia toda baseada em padrões repetitivos: colunas em fila debaixo dos trilhos do metrô, prédios com janelas idênticas, o próprio metrô, a fileira de freiras no caminho, o chão por onde Lola corre visto de uma tomada do alto com padrões quadrados, o eletrocardiograma dentro da ambulância, a faixa listrada do lado direito da cena da morte de Manni; a escolha de uma trilha musical baseada em padrões repetitivos tecno que funcionam como uma espécie de substituto para os sons dos ponteiros do relógio: um fator de incremento para a tensão nos momentos de corrida. As letras das canções também trazem versos repetitivos como em Running Three (tema da terceira corrida): “I want to go/ I want to fight/ I want to rush/ I want to run/ I want to see you again/ under the setting sun/...”

gritos e vidros quebrando – um dos elementos que acrescenta um componente fantástico ao filme, e que está relacionado a um gesto genérico: um momento de acúmulo de tensão que leva a um fim explosivo seguido de profundo silêncio, que pode ser encarado como uma miniatura da estrutura formal de cada uma das duas corridas iniciais com respeito a seus desfechos e mesmo ao seu conteúdo musical: depois de 20 minutos de tensão ao som de uma trilha musical tecno alucinada, ocorre, inevitavelmente o momento crucial da morte de um dos protagonistas, seguida da execução de um fragmento da estática e tranqüila textura homofônica de cordas que forma a base para a obra The Unanswered Question do compositor norte-americano Charles Ives que possui relação com o silêncio depois do explodir dos vidros.

tal efeito fantástico ocorre na introdução quando Lola pede calma a Manni ao telefone, no escritório de seu pai durante uma discussão na primeira corrida e no cassino, na terceira corrida quando ela acaba ganhando o dinheiro. Aqui, além de quebrar todos os vidros do ambiente, Lola consegue influenciar a roleta a seu favor através desse recurso. Na segunda corrida, o gesto grito-vidros quebrando está presente de forma sutil na relação: sirene de ambulância-chapa de vidro quebrando no cruzamento. Aqui, porém, como nas cenas que acabei de citar, Lola é a responsável pelo “efeito”, pela colisão, por ter distraído o motorista momentos antes.

espiral - o gesto espiral permeia todo o filme. Voltando para a estrutura formal macrofórmica, temos uma estrutura circular, que acaba sendo retomada continuamente depois de transcorrido todo o seu percurso, mas que nunca é retomada como antes, como um padrão espiral. O fato de Lola parecer estar sofrendo um constante aprimoramento como se estivesse aprendendo com os próprios erros entre uma corrida e outra, acaba sugerindo que a cada nova tentativa, Lola estaria num estágio superior como ser-humano: desde a criança tola que não sabe o que fazer e que acaba morrendo violentamente (primeira corrida), até o ser angelical que salva um paciente terminal dentro de uma ambulância em movimento a caminho do ponto de encontro com Manni apenas olhando em seus olhos e segurando sua mão. Pode-se visualizar a imagem de uma espiral divergente. Em termos de cenário, maquiagem e fotografia, temos diversos momentos onde aparecem espirais: na apresentação dos créditos como uma textura de fundo; a câmera na cena onde a mãe de Lola fala ao telefone descreve um percurso espiral ao seu redor que acaba transportando a cena para o desenho animado de Lola na TV da sala; no início de cada uma das corridas (em formato de desenho animado) ao percorrer as escadarias do seu prédio, que nesses momentos parecem não ter fim e possuem o formato de espiral convergente; a porta de seu prédio possui um ornamento em forma de espiral; o nome do prédio de onde está situada a cabine telefônica de onde Manni se comunica com Lola se chama Spiralle; os desenhos da cama de Lola e Manni nas cenas de flashback que sucedem ambas as mortes são em formato de espiral; o cabelo da moça no fim da cena do cassino na terceira corrida foi penteado em formato espiralado. Por fim, o movimento circular da roleta, que apesar de ser circular sempre aponta para um destino diferente, é imitado por Lola na introdução quando a protagonista se concentra para tentar achar em sua mente alguém que possa lhe emprestar o dinheiro: a câmera descreve um movimento circular em torno da personagem e vão aparecendo “resultados parciais” em sua mente até que o movimento giratório vai perdendo força (como na roleta) e o personagem sorteado acaba sendo o seu pai.

a trilha musical que acompanha Lola em suas 3 corridas é constituída de músicas que possuem a mesma estruturação formal, mas que apresentam sempre arranjos e letras diferentes, enfatizando a novidade de cada corrida apesar do início idêntico: a música é retomada mas nunca da mesma forma. As letras, como já foi visto no item repetição, possuem, em grande medida, versos que apesar de iniciarem de forma idêntica, logo são variados como mais uma alusão subliminar ao padrão espiral. Vale dizer que o diretor Tom Tykwer declarou-se grande admirador do cineasta Alfred Hitchock e chegou a afirmar que a idéia das espirais em seu filme pretendia ser uma homenagem: uma referência explícita ao filme Vertigo.

relógios – sendo o tempo o grande protagonista, e vilão, da estória, não podiam deixar de faltar inúmeras referências a ele no decorrer da trama. Um relógio surge monstruoso antes da introdução e durante os créditos firmando-se como elemento fundamental de costura do filme. Relógios foram dispostos em diversos locais do percurso de Lola em direção a Manni para por o espectador a par do tempo que resta a Lola para evitar que seu namorado assalte o supermercado em frente à cabine telefônica e salvar sua vida. O relógio mais importante, sem dúvida, é o que fica situado ao lado do supermercado: é ele que Manni consulta para saber se é a hora de entrar no estabelecimento e realizar o assalto. Há um relógio no quarto de Lola que serve como start para que o espectador “acerte o seu relógio”, outro na sala de seu pai que, por ser de vidro se espatifa quando Lola grita na primeira corrida e uma senhora dá as horas a Lola quando esta sai do banco. O formato do relógio também faz parte do design geral: circular e fragmentado (roleta), divide o tempo marcando os segundo em tique-taque (repetição). O relógio define os lapsos temporais dentro dos quais os eventos se sucedem e funciona como um tirânico mecanismo de precisão que deve servir como fria referência na luta da personagem principal pela vida de seu amor.

a trilha musical tecno é utilizada nos momentos em que Lola se encontra correndo contra o tempo, nas ruas, e cessa toda vez que surge uma situação de diálogo alheia a isso: quando se perde a noção do tempo e se faz necessário perguntar as horas para reiniciar a corrida. Existe uma relação estreita, portanto, entre o correr dos segundos no relógio e os momentos em que Lola literalmente aposta corrida com o tempo, nas ruas. Nos momentos em que o tempo pára, nos finais, cessa também o ritmo tecno, que é substituído por algo que dá a idéia de suspensão temporal: os acordes prolongados em pianissimo e a harmonia ambígua de Charles Ives, ou mesmo o simples silêncio dos momentos íntimos à cama.

20 – existem 4 referências importantes a esse número no decorrer do filme: a primeira é bastante óbvia e diz respeito ao prazo de 20 minutos que Manni estipula para iniciar o assalto ao supermercado. Nesse lapso de tempo Lola deve conseguir 100 mil marcos para dar ao gangster patrão de Manni, caso contrário seu amado será assassinado. O segundo é o tempo de duração real, para o espectador, de cada corrida é sempre equivalente aos 20 minutos estipulados por Manni. Todos os eventos mostrados durante as 3 corridas ocorrem quase simultaneamente a elas, sendo que os eventos paralelos à corrida de Lola foram filmados com técnicas diferentes e possuem uma imagem levemente desfocada. O filme possui, portanto 81 minutos, sendo que mais ou menos 20 para a introdução e mais ou menos 60 para as 3 corridas (20 cada). O terceiro não é tão significativo e diz respeito ao dinheiro necessário para Lola comprar a ficha de 100 marcos na entrada do cassino, faltam 20 centavos de marco, e o quarto é que Lola ganha o dinheiro de Manni apostando insistentemente no número 20 da roleta, na terceira corrida.

cor vermelha – Existem várias referências à cor vermelha no decorrer do filme: o cabelo de Lola, cuja corrida acaba nos remetendo à corrida de um portador da tocha olímpica, a ambulância, o cenário e a luz dos momentos íntimos entre Manni e Lola, a primeira bolsa, do assalto ao supermercado, além de referências aqui e ali por toda parte. Outra referência relacionada a cores é muito importante e diz respeito à maneira sutil como o diretor procurou dar a dica de como deveríamos encarar cada uma das corridas. Em todas as corridas, inevitavelmente, Lola consegue o dinheiro e o deposita em bolsas. Na primeira corrida, depois de assaltar o banco, ambos fogem com o dinheiro em bolsas vermelhas; na Segunda corrida o dinheiro do assalto ao banco do pai é colocado em uma bolsa verde e o dinheiro ganho no cassino, numa bolsa dourada (amarela). Tais cores remetem às cores de um semáforo: pare, siga e preste atenção. Em outras palavras, a primeira corrida está sob o signo da insensatez e insegurança e Lola age como um carro desgovernado; foge de medo do cão nas escadas, se submete à autoridade do pai, não consegue o dinheiro, é levada a participar do assalto ao supermercado e acaba morta. Coincidentemente a palavra falada por Lola quando de sua ressurreição é stop (pare); na segunda corrida Lola assume as rédeas da situação e se impõe, procura enfrentar o garoto das escadas e sofre a queda (a deixa para entendermos que ela está sendo guiada por uma determinação extremada que pode levar ao desastre), consegue o dinheiro passando por cima da autoridade paterna, chega a tempo de evitar o assalto, mas não consegue evitar a morte de Manni que não vê o sinal verde para a ambulância, que o atropela. A letra da canção tecno que acompanha sua segunda corrida diz: “Just go go, never stop and never think/ To do do do do the right thing/...”; e finalmente, a terceira corrida é a corrida da reflexão, da inspiração divina, da atuação de forças transcendentais: depois de não conseguir encontrar o pai, Lola reza por uma saída correndo de olhos fechados pedindo um sinal e um caminhão a acorda quando por pouco não a atropela, e com isso Lola visualiza o cassino, gastando os últimos segundos de sua corrida apostando tudo o que pode na roleta. Por fim ajuda a ressuscitar um paciente terminal dentro da ambulância.



Nota: Depois posto um comentário num enfoque psicanálitico sobre o filme.

Bye, bye.





http://www.overmundo.com.br/overblog/7-elementos-estruturais-em-corra-lola-corra

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

IFPE - (http://www.ifpe.org)
American Pschoanalytic Association - (www.apsa.org)
American Psychogical Association - (http://www.apa.org)
Freud Museum - (www.freud.org.uk)
Societé Psychanalytique de Paris - (http://www.spp.asso.fr)
European Association of Psychoanalysis - (http:// www.aepsi.it)
International Association of Relational Psychoanalysis and Psychotherapy IARPP - (http://www.iarpp.org)

Do amor

Ah, o amooooor...

Do amor
Tulipa Ruiz
O meu amor sai de trem por aí
e vai vagando degavar para ver quem chegou
O meu amor corre devagar, anda no seu tempo
que passa de vez em vento
Como uma história que inventa o seu fim
quero inventar um você para mim
Vai ser melhor quando te conhecer

Olho no olho
e flor no jardim
Flor, amor
Vento devagar
vem, vai, vem mais

Na busca da felicidade

Na busca da felicidade[1]

O bom uso da lucidez

Entrevista a Jean-Pierre Winter[2] por Claire Fleury

Le Nouvel Observateur (NO). – Em 1999, disse nesta revista: «A psicanálise não é uma disciplina da felicidade.» Vinte anos depois, continua a afirmá-lo?

Jean-Pierre Winter. – Continuo! [Gargalhada]. Contudo, não é uma disciplina que leve, necessariamente, a se aceitar estar-se na infelicidade. De uma certa maneira, a psicanálise permite ao paciente aceitar a sua verdade. Mas não devemos iludir-nos. O acesso à verdade não é uma porta que se abre à felicidade. Lacan falava de momentos de «dessubjectivação» que acompanham o fim da análise.

N.O. – Mais vale ser-se um imbecil feliz?

J.P Winter – Há, sem dúvida, mais felicidade possível na imbecilidade. Mas é aqui que eu daria uma outra nuance ao que eu disse há vinte anos. Há, no melancólico, no que sofre do que se poderia chamar de uma patologia da lucidez, uma forma de humor e de relação à vida fundada no cómico, pelo menos, tanto como no trágico. Todos conhecemos o paradoxo do palhaço triste. Faz rir toda a gente excepto ele. Os humoristas vão buscar ao seu próprio desespero de como fazer rir os outros. Um dos materiais fundamentais nos quais Freud se alicerçou para descodificar a nossa relação com o inconsciente foram, justamente, os chistes. Aliás, é curioso como se esquece que “Os chistes e a sua relação com o inconsciente” é uma das suas obras mais volumosas.

N.O. – Qual é a relação entre o riso e a felicidade?

J.-P. Winter – Somos mais feliz quando rimos. Usualmente, faz bem. Mas não prova nada. Encontra-se, aliás, esta dimensão na análise.

N.O. – Pode-se rir no divã?

J.-P. Winter – Absolutamente. Podemos rir de nós próprios quando temos essa capacidade mas, também, nos momentos de emergência do inconsciente. Obviamente que isto depende do modo como o analista os releva. Mas não há nenhuma razão para fazer desses momentos uma tragédia.

N.O. – Os psicanalistas são pessoas felizes?

J.-P. Winter – Alguns são, definitivamente, infelizes, sinistros. Confundem o sério com o
espírito em série, ou seja, classificam, catalogam e têm uma visão restritiva do que têm de fazer. Não metem nessa visão, nem a imaginação nem a jubilação. Mas nem todos são assim! O que sempre me tocou em Françoise Dolto, com quem longamente trabalhei, era a sua maneira de “reencantar o mundo”, usando a expressão de Marcel Gauchet. Jacques Lacan era igual. Na prática analítica, as suas interpretações eram, muitas vezes, muito divertidas. Mas ele estava investido da função de ideal do psicanalista. No início da minha análise com ele, assisti a um dos seus seminários , numa altura em que eu era, ainda, um pouco exterior a este meio. Lacan disse: « Os crustáceos com hastes são os únicos que não se masturbam.» A assistência notou esta afirmação sem se manifestar. Eu fui o único, ou quase, que me ri. Admirando-me, chamei-lhe a atenção para isto. Respondeu-me: «É mesmo esse o drama».

N.O. – Lacan era mais pessimista.

J.-P. Winter – É verdade e Dolto mais optimista. Mas tinham, pelo menos, um ponto em comum: para eles, a psicanálise estava do lado do vivente. Nenhum psicanalista pode pretender dar a felicidade. Mas o que é certo, é que a psicanálise está do lado da vida. Depois, tudo depende de cada um. Para mim, se está do lado da vida, estou feliz. Pelo contrário, se me aborreço, acho isso “mortal”.

N.O. – Para os psicanalistas, a felicidade é suspeita?

J.-P. Winter - Sim se ela se afirma num discurso e se apresenta como uma denegação dos problemas. Pode, também, ser uma forma de indiferença ao mundo ou de imbecilidade. Mas na vida comum, se alguém mostra que está a sentir momentos de felicidade e se está consciente que a felicidade é efémera, isto não tem nada de suspeito, bem pelo contrário.

N.O. – Uma cura psicanalítica dá o direito a ser-se feliz?

J.-P. Winter – Sim, dá o direito de viver momentos de felicidade que são proibidos na neurose. Por exemplo, a pessoa proíbe-se de ser mais feliz do que o pai. Logo que encara a possibilidade de ser feliz nos negócios, no amor…, a pessoa sabota-se para que isso não aconteça. Há, também, as pessoas que estão sempre a queixar-se . A máquina do queixume pode representar um tal gozo inconsciente que é impensável livrar-se dele. Isto liga-se à questão do masoquismo ou, como disse tardiamente Freud, à questão da pulsão de morte. Colocar-se, constantemente, em situação de insucesso é uma tendência que todos temos. A análise permite relevar essa tendência, dar um passo para trás para se olhar a si próprio a ter essa tendência mas não, necessariamente, a satisfazê-la.

N.O. – O paciente pode encontrar-se perante o medo de deixar de sofrer?

J.-P. Winter – Não o podia ter dito melhor. É a «reacção terapêutica negativa». No momento em que tudo foi, de novo, reunido na análise, para que o paciente possa abandonar os seus sintomas, em vez de o fazer, ele volta-se contra o seu analista e torna-se agressivo. Um sintoma pode colar-se à pele como uma carraça a um cão. É por isso, aliás, que os psicanalistas têm dificuldade em compreender as terapias cognitivo-comportamentais (TCC) porque se sabe a que ponto «o equilíbrio» devido aos sintomas é frágil. Privar alguém do seu sintoma pode ser perigoso.

N.O. – O que é que pode acontecer?

J.-P. Winter – Quando o paciente se apercebe que, por detrás do seu sintoma, não existe nada, apenas o vazio. De qualquer forma, o vazio está sempre presente. Existe, em todos nós, um quanto de vazio. Mas é preciso poder enfrentá-lo. Mas o paciente sente, fisicamente, a vertigem. Pensa que é o vazio à sua volta que é a causa. Mas, é evidentemente, o vazio que está dentro dele que lhe faz medo. Por isso, tem um medo imenso de se livrar dos sintomas. Há, também todos os benefícios que se podiam retirar dos sintomas, como por exemplo, explorar o meio onde vive em nome da sua fobia. Por vezes, é o próprio meio envolvente que se opõe à perda do sintoma.

N.O. - Evocou as TCC. Os seus partidários criticam à psicanálise de esgaravatar onde faz
doer, de mergulhar nos meandros do passado em vez de ajudar simplesmente o paciente a ir melhor.

J.-P. Winter – Não é por não desenterrar as coisas que elas deixam de existir e de produzir os seus efeitos de deterioração. É aqui que existe um mal entendido. Na psicanálise, a questão não é desenterrar o que foi enterrado mas o que foi mal enterrado. A finalidade de uma psicanálise não é de se recordar para se recordar, é de se recordar para, finalmente, esquecer.

N.O. – Uma cura psicanalítica é uma conquista da liberdade interior?

J.-P. Winter – É uma conquista do corpo. A psicanálise não separa o corpo do espírito, ambos caminham em conjunto. Esta conquista dá o sentimento de uma muito maior liberdade interior porque a pessoa reapropria-se das partes do seu corpo que até então estavam mortas. O toque, o ouvido, a visão, o paladar…não funcionavam antes da análise. Depois, a pessoa reapropria-se deles na acção, pintando, fazendo um filho, investindo-se no seu trabalho. A energia que, na neurose, estava ao serviço da mortificação de uma parte de si, é posta em liberdade para outra coisa.

N.O.- Uma análise conseguida, é, também, a promoção do livre arbítrio?

J.-P- Winter – Na neurose, a pessoa proíbe-se de julgar as pessoas tutelares. O neurótico não pode dizer a si próprio; « Isto é bom para mim, aquilo não é.» ou « O importante é o que eu desejo e não o que o meu pai deseja.». Se a pessoa pode dizer «a minha mãe sofre mas não é por minha causa, mesmo se ela mo repetiu durante vinte anos» faz um juízo crítico. O importante é a questão da culpabilidade. O que a psicanálise pode dar, é a pessoa separar-se do desejo dos mais próximos sem culpabilidade. «Eu desenrasco-me com a minha história.»

N.O. – Hoje, sofre-se de menos proibições. É-se mais feliz?

J.-P. Winter – Lacan dizia que se se encontrasse o que se pedia, estar-se-ia «em falta da falta». A sociedade de consumo é muito angustiante porque ela responde à necessidade mas não ao desejo. Um pouco como uma mãe que responderia sempre, ao seu bebé, dando-lhe de mamar. Mas não é isso que o bebé deseja! Vivemos numa sociedade «em falta da falta».

N.O. – Estamos quase no Natal.

J.-P. Winter – Quando uma criança pede um bombom, em vez de lho dar, Dolto dizia que se devia falar-lhe do bombom. Com certeza que não é para tomar à letra. O que ela queria dizer era que, se não se fizesse assim, estava-se a privar a criança de todo um imaginário. Tem de se lhe permitir que ela possa fantasmizar à volta do seu desejo. Hoje, os jovens pedem consolas de jogos para o Natal. Consolas e mais consolas! O que nos leva a crer que eles têm todos necessidade de serem consolados!


[1] A partir da entrevista inserida no dossier , “A la poursuite du bonheur”, in Le nouvel Observateur, nº2303-2304, 24 Dezembro 2008- 7 de Janeiro2009 .
[2] Psicanalista, antigo aluno de Jacques Lacan.

A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

(Psychologies Magazine, outubro 2008, n° 278 – Entrevista com Jacques-Alain Miller realizada por Hanna Waar)

Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.

P.: Então, o que é amar verdadeiramente?

J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão "Quem sou eu?".

P.: Por que alguns sabem amar e outros não?

J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers - se posso dizer - homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.

P.: "Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso...

J-A Miller: Acertou! "Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem". O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua "castração", como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.

P.: Amar seria mais difícil para os homens?

J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a "degradação da vida amorosa" no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.

P.: E nas mulheres?

J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem...

P.: Por que "cada vez mais"?

J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa.

P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?

J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo- a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.

P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela?

J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no nariz de uma mulher!

P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras!

J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina.

P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?

J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.

P.: E a fantasia masculina?

J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.

P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!

J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes. Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.

P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?

J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante” (3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles.

P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas...

J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.

___________________________________________________________________________

(1) Zygmunt Bauman, L' amour liquide, de la fragilité des liens entre les hommes (Hachette Littératures, Pruriel, 2008)
(2) Les soufrances du jeune Werther de Goethe (LGF, le livre de poche, 2008).
(3) Honoré de Balzac in La comédie humaine, vol. VI. Études de mours: scènes de la vie parisienne (Gallimard, 1978).

Tradução de Maria do Carmo Dias Batista, a partir de:
________________________________________________________________
ten line news
nº 419 - nouvelle série
Date: lundi 6 ouctobre 2008
Número Extraordinaire
Editée sur UQBAR par Luis SOLANO


Amar

Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.

Sobre o Amor...

Eros & Psiquê. Antônio Canova
Sobre o amor.
“Quem ama nunca sabe o que ama; nem sabe por que ama, nem o que é amar” (Fernando Pessoa).
“E foram felizes para sempre”. Por trás desta ideia tão difundida pela Indústria Cultural (basta pensarmos em qualquer novela global) subjaz uma construção histórica, típica da modernidade, que remete ao amor romântico e à fantasia de que existiria um encontro ideal, o amor para toda vida, a alma gêmea, enfim, são inúmeras as formas de expressão desta ideia que permeia o imaginário ocidental.
O mito do encontro no qual Dois fariam Um é belamente exemplificado em um texto fundamental sobre o amor: “O Banquete” de Platão. Nele, através de Aristófanes, Platão discorre sobre a história de seres completos que foram, por inveja dos deuses, partidos ao meio, engajando-se desde então na busca pela metade que lhes foi tirada, para assim voltarem à plenitude. Tudo a ver com a ideia de alma gêmea, da metade da laranja, não? No entanto, para a psicanálise o amor estaria mais próximo ao mito construído por Platão neste mesmo texto e que é expresso por Sócrates: o amor, Eros, seria fruto do encontro de Poros e Pênia, traduzindo, o Recurso e a Pobreza. Portanto, por filiação, o amor é pobre, carente, sempre lhe falta algo. No entanto ele tem “o recurso”, condições para conseguir o que queri.
“Amar é dar algo que não se tem”, diz o psicanalista Jacques Lacan. Como assim? Bem, o homem é por definição um ser faltante e é porque lhe falta algo que ele segue desejando, imaginando objetos e situações que possam acalmar seu querer.
Porém, esta falta nunca é preenchida, é constitutiva do humano e justamente o que o impulsiona a viver, mantém aceso o desejo (não apenas o sexual, que fique claro!). Já percebeu que assim que alcançamos um objetivo, após o momento de satisfação segue um novo desejo? Por exemplo: Tudo que ela queria para ser feliz era se casar. Agora que se casou, tudo que mais quer na vida é ter um filho. Tendo este filho, seu sonho passa a ser ter uma casa própria, e por aí vai. Por mais realizada que se sinta uma pessoa, sempre haverá alguma coisa faltando. Assim a satisfação é sempre parcial, nunca completa.
Em relação ao amor, segundo o referencial psicanalítico, o amante seria aquele que julga dar ao ser amado algo que lhe falta enquanto que o ser amado acredita possuir algo que preencheria a falta em seu amante. Ledo engano, pois o que se dá é justamente aquilo que o outro não precisa, o que se tem não é necessariamente o que o outro quer. Isto pode parecer complicado, mas se traduz pelos desencontros da vida amorosa, ou simplesmente pela constatação de que, na prática, o amor não acontece como nas novelas e filmes. Fique tranquilo, você não é um azarado que não consegue viver um conto de fadas. Este desencontro amoroso, a insatisfação com a “cara metade”, em maior ou menor grau, acontece com todo mundo. “Ele não me escuta!” ou “ela não me entende” para simplificar.
A invenção de que o amor nos completaria plenamente é um artifício humano para lidar com o próprio desamparo frente à existência e manter para si mesmo a promessa de felicidade (e o discurso capitalista aproveita-se bastante disso, oferecendo inúmeras saídas fantasiosas, dito de outra forma, mercadorias, para preencher esta falta). A impossibilidade de completude amorosa prova-se a cada dia ao lado de quem se ama. O amor acontece não da forma perfeita que costumamos idealizar, mas deliciosamente problemático, cheio de encontros e desencontros, alegrias, angústias, paixão e indiferençaii. “É ferida que dói e não se sente” (Camões).
A idealização do amor romântico, histórica e típica do pensamento ocidental, esconde nuances e sustenta preconceitos como, por exemplo, em relação aos papéis atribuídos aos homens e mulheres. Tradicionalmente no campo das relações amorosas, as regras para os homens não são as mesmas destinadas às mulheres. Grosso modo, ao homem é permitido entregar-se a experiências eróticas concretas sem culpa, enquanto que a mulher deve ser mais reservada, recatada. O feminino ligado ao amor e o masculino à virilidade. Uma mulher sexualmente liberada não será vista com bons olhos, enquanto que um homem na mesma condição, é apenas um homem, estaria fazendo o que sua “natureza” ordena.
Felizmente esses estereótipos socioculturais de masculino e feminino, do que é ser homem e mulher estão em processo de mutação. Em entrevista para a Psychologies Magazine, 2008, o psicanalista Jacques-Alain Miller explica que ao homem tem sido cada vez mais permitido (e requerido) acolher suas emoções, a amar e de certo modo se feminilizar, ou seja, adotar posicionamentos e atitudes tradicionalmente atribuídas às mulheres. Estas, por sua vez, em nome da igualdade dos papéis, também adotam cada vez mais posturas tidas como masculinas. Esta divisão mais democrática de papéis permite, por exemplo, ao homem contemporâneo viver de forma plena a paternidade, trocando fraldas e afeto com seu filho de uma maneira, digamos, “mais maternal”. A máxima “homem não chora” cede lugar à idéia de que “homens também choram, por que não?”.
Além disso, neste cenário de mutação, a família, ou aquilo que se considera como tal, está escapando cada vez mais do retrato tirado no século XIX: o homem, antes o grande provedor, agora divide as contas com a esposa. Famílias homoparentais, produções independentes, ou seja, novos estilos de vida, de ser e estar no mundo. E consequentemente novas formas de amar (ou apenas formas de amar que estavam latentes, que “saíram do armário” quem sabe). Ainda segundo Miller, partindo do livro “Amor Líquido” do sociólogo Zygmunt Bauman, essa mutação dos papéis atribuídos a homens e mulheres marcam uma fluidez generalizada no teatro do amor, em oposição à fixidez de antigamente, amor tornado líquido. As pessoas estão sendo levadas a assumir seu modo de viver e amar e a respeitar formas de ser, de viver e de amar antes proscritas.
i “Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o filho de Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a Pobreza, e ficou pela porta. Ora, Recurso, embriagado com o néctar - pois vinho ainda não havia - penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Pobreza então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu lado e pronto concebe o Amor. Eis por que ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E por ser filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a condição em que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio ele de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá.” – O Banquete, Platão.
ii A literatura sempre se adianta à teoria. Um romance belíssimo que retrata a relação amorosa em toda sua dimensão de doce e amargo é “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera. Pautado por um início leve, o livro aos poucos se torna denso, pesado e faz o leitor sentir toda a ambivalência que permeia uma relação amorosa, da leveza da paixão inicial que perde altitude frente ao cotidiano. E isto também é bom.
Bibliografia:
KUNDERA, M. A insustentável leveza do ser. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1983.
MILLER, J.A. Entrevista realizada por Hanna Waar à Psychologies Magazine, outubro 2008, n° 278.
PLATÃO. O Banquete in: Os Pensadores, Rio de Janeiro: Ed. Abril, 1978

Psicanálise Aplicada

Psicanálise E Educação

Ementa: Interface entre a Psicanálise e Educação. O desejo de saber. Sublimação e educação. A psicanálise aplicada à instituição educacional.

Referências Bibliográficas:

ASSAD, Samyra. Das Tarefas impossíveis. Boletim: Psicanálise e Educação. Belo Horizonte, n. 4, 1997.

LAJONQUIÉRE, Leandro. De Piaget a Freud: para repensar as aprendizagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.

SANTIAGO, Ana Lydia. A Inibição Intelectual na Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2005.

MILLOT, Catherine. Freud Antipedagogo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1992

Discurso


DISCURSO DA PARANINFA

(2 E 3 TURMA DE FORMANDOS DO CURSO DE PEDAGOGIA E MATEMÁTICA DA UNIVERSIDADE DE UBERABA - UNIUBE- POLO DE GOVERNADOR VALADARES-2010)

Kátia Flamiguh Rodrigues Santos*

Queridos formandos,

É com muita alegria que cumprimento e agradeço, os alunos-formandos do Curso de Matemática e Pedagogia, o convite para ser paraninfa das turmas. É uma grande honra estar aqui neste dia tão especial! O dia da formatura!

Aos familiares e amigos, que vocês possam sempre, orgulharem deste momento. O apoio dos senhores foi fundamental para que os formandos pudessem chegar até aqui. E isso nos mostra o poderoso laço do amor.

A história de vocês queridos formandos, na Universidade de Uberaba foi escrita com muito esforço e dedicação. A Uniube Trabalhou arduamente para formar Pedagogos e Educadores bem preparados para o mundo do trabalho. Tenho certeza que estou diante de profissionais compromentidos com a Educação.

A Educação deve ser sentida como forma de respeito e liberdade humana. Segundo o educador Paulo Freira: "A educação é um ato de amor, por isso , um ato de coragem."

Além de amor e coragem, é necessário estudo, muito estudo, não parem de estudar! É preciso bases teóricas consistentes para a construção do conhecimento e das práticas pedagógicas que sustentem todo o trabalho educacional. Por isso, tenham sede de saber!

Para finalizar, tem um pensamento de Mahatma Ganghi que é assim: "Se eu pudesse deixar algum presente a vocês, deixaria acesso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora... Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para vocês, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável: Além do pão, o trabalho. Além do trabalho a ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: O de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída."

É isso, se joguem! Acreditem! Vocês vão muito além!

Obrigada mais uma vez pela horna de ser paraninfa de vocês queridos formandos e ex-alunos e, agora, queridos colegas, desejo a todoas e a cada um de vocês muitas felicidades.

Que Deus os iluminem sempre!
Obrigada a todos pela atenção.
Parabéns formandos!



Introdução do Dicurso do Paraninfo

1- Ilustríssima Senhora Professora Marlene Alves Assunção Santos, coordenadora pedagogica regional da Uniube nos Polos da Região do Vale do Rio Doce.
2- Ilustríssimo Senhor João Paulo Ribeiro Araújo, representante do IBED-Instituto Brasileiro de Educação a Distância.
3- Ilustríssima Senhora Marly Alves de Oliveira, coordenadora do Polo de Governador Valadares.
4- Ilustríssimos Senhores Professores, Preceptores, Paraninfo, Patrono e Nomes de Turma.
5- Senhores Pais
6- Senhoras e Senhores
7- Caros afilhados

Boa noite.


P.S: Momento super legal! Agradeço a todos o carinho e a lembrança.

Campus Centro - Av. Guilherme Ferreira, 217 - Centro - 38010 - 200 - Uberaba - MG - Fone: (33) 3319-6600 - Fax: 33212-6332
Campus Aeroporto - Av. Nenê Sabino, 1801 - Universitário - 38055-500 - Uberaba MG - Fone: (34) 3319 - 8800 - Fax: 3314-8910 - Uberaba MG - Fone: (34)3319-8800
www.uniube.br - e-mail:uniube@uniube.br

Dicas Psicopedagógicas

Quando atendia no consultório sempre tentatava passar para os pais e responsáveis algumas orientações sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, e que acaba servindo pra todo mundo no geral. Vai lah...

É super, super importante que a criança tenha contato com o universo da leitura e escrita desde sempre (na barriguinha da mamãe já pode ouvir contar histórias), o incentivo à leitura e a escrita, bricadeiras centradas na aprendizagem e jogos são atividades, exercícios importantes para o desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e corporal das crianças.

Não é possível desenvolver habilidades cognitiva e social sem que a emoção seja trabalhada. Dar o reforço positivo, ou seja, elogiar a criança por seus esforços, pelo que ela é capaz de criar, produzir para que possa sentir-se segura para aprender aumentando sua auto-estima.

Respeitar a produção da criança é muito importante para ela. Valorizar o grau de persistência nas tentativas em aprender. Ajudar a criança a ficar mais calma diminuindo o grau de ansiedade e medo diante da tarefa prposta, de um aprendizado novo.

Na escola o trabalho em grupo facilita o aprendizado.

Importante compreender as características do pensamento infantil nos seus diversos estágios de desenvolvimento. Procurar saber sobre o desenvolvimento e a aprendizagem; compreender como ocorrem a assimilição e a acomodação, necessárias para entender como a criança aprende (o equilíbrio).

O conhecimento é construído com a participação ativa do sujeito. Acretita-se que o conheciemtno é (re) construído de forma reflexiva e na interação ativa com o meio.

Percebemos que a tecnologia consegue "prender" a atenção de grande parte das crianças/alunos, associá-la ao aprendizado permite explorar essa facilidade e interação oferecida durante o trabalho pedagógico em casa, na escola e em outros espaços de aprendizagem.

A criança com dificuldade de aprendizagem deverá ser acompanhada por um especialista como o psicopedagogo(a) ou pelo professor(a) de apoio e contar sempre com a atenção, amor, respeito e compreensão da família.

Estabelecer que a criança tenha horário e espaço adequado em casa para estudar é sempre muito importante e necessário. Para que desta maneira ela desenvolva o hábito e o gosto pelos estudos.

Como eeses pré-requisitos, a criança terá mais possibilidades para aprender, para desenvolver habilidades e pontecialidades, desde que sejam respeitadas as suas fases naturais do desenvolvimento e suas diferenças.

Informe Psicopedagógico

Dialógo Psicopedagógico

Achei muito interessante o artigo intitulado "Entrelaçando Narrativas O Terapeuta e o Cliente."

Publicações da Associação Brasileira de Psicopedagogia
www.abpp.com.br

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Para uma profunda reflexão

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.


Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mer...cado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.


Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.


Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.


É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?


Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.


Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.


Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.


A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.


Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.


Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.


Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.


Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.


O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.


Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.


Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.


Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.


Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a
vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.


Eliane Brum

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Fernado Pessoa

Eros e Psique
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


(Ilustração criada por Tatiana Paiva)

Síntese: Aula sobre Dependência Química

Neste trabalho tentaremos fazer uma síntese sobre o que foi discutido em sala de aula, porém julgamos ser uma tarefa bastante difícil pela profundidade do tema e riqueza de detalhes. O foco do trabalho é fazer algumas pontuaçõessobre o ser/sujeito, drogas e análise. Primeiramente, gostaríamos de dizer que o sujeito usário de drogas, sejam elas, lícitas, ilícitas e/ou farmacos são sujeitos que precisam de ajuda famailiar e muitas vezes esse trabalho deve ser desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar que tenha competência técnica, acadêmica e, sobretudo competência humana. Mas o uso de drogas... Por quê? Podemos de forma simples responder o seguinte: por várias razões, sejam elas, sociais, culturais, ambientais, hereditárias, mas curiosamente de modo muito subjetivo, singular para cada sujeito.
Existe no meio dos usuários (classificando-os) o experimental, ocasional, habitual e dependente que fazem uso das drogas naturais, semi-sintéticos e sintéticos como já citamos drogas lícitas, ílicitas e fármacos e usuários de todas as faixas etárias de idade.
É importante mencionar que as drogas dependendo do tipo (estimulantes, depressoras, deturpadoras), do tempo de uso, da quantidade (dose), do sujeito vão causar alterações orgânicas, neurológicas, psíquicas entre os usuários. O que chamam de dependência química pelo uso e seus efeitos como, por exemplo, efeitos ruins, podem a saber, desenvolver desordens mentais, transtorno de personalidade, depressão, angústia, hedonismo, baixa auto-estima, ansiedade e psicose. Podemos citar sinais e sintomas como, por exemplo, alteração da memória, da percepção do tempo, tensão, alto nível de stress, alterações emocionais (mudança de humor) em outros e de quadros característicos dos trantornos mentais. Que traduzem as consequências do uso num alto rico ao bem-estar (saúde física e mental) do sujeito/usuário.
Faz-se necessário uma investigação sobre quem é usuário de drogas, a função da droga para esse sujeito, a frequência, a regularidade (o padrão de uso) e a aprtir daí fazer uma distinção do usuário se é experimental, ocasional... Por que os dependentes químicos e eusuários esporádicos? Investigar qual a relação do sujeito com as drogas, quais os laços que se faz em função da droga. Vamos verificar outros campos como trabalho, escola, namoro. Outros elementos indicadores e suas ligações, associações.
Qual o porquê do uso? Seria um prazer indivual (como diz a música do Ira, "este é um flerte fatal em busca de um prazer individual"...), afirmação de identidade grupal, hereditariedade, alívio de angústias, satisfação, desejo... Qual a função da droga para o sujeito? Podemos dizer que às vezes, é muito mais a significação do que efeito. Quais os mecanismos da droga agem como desencadeadores ou preceptores do desenvolvimento de doenças como a psicose? Qual a relação do uso das drogas com o possível desenvolvimento das doenças psíquicas? Como psicose e esquezofrenia? Lembramos estudos científicos sobre os componetes de cada droga pesquisada e os eventos nocivos para o corpo humano a probabilidade do risco dos dependentes químicos desenvolverem transtornos psiquiátricos , psíquicos.
No campo psicanalítico consideramos que, é sumamente importante que o analista investigue com o sujeito o momento do desencadeamento do primeiro contato com a droga não só para saber cronologicamente, mas para saber o quanto tem de subjetivação e função. O analista deve ter foco na fala do sujeito, nos atos falhos, etc., para compreender o discurso do sujeito.
O foco do analista é localizar no discurso do analisando o que aparece. Perceber a demanda para que se possa operar e tentar ajudar o sujeito a processr alguma coisa no seu íntimo (registro simbólico- registro imaginário (significações).
Alguém que entra em análise tem que ter a soma da queixa e do sofrimento. No caso do usuário sofre da consequência do ato. Divisão: ele e o ato de se drogar e a droga. Acausa não é enigma é a droga. Quando a demanda é individual, ou seja, própria do sujeito ele vai procurar tratamento só quando "quebra alguma coisa" quando há desequilibrio como exemplo, o médico diz:"você vai morrer!", quando se perde emprego, mulher, família, etc. Então, surge a busca por ajuda para tratamento, para ver sua relação com a droga.
Como podemos pensar é uma clínica difícil e com o manejo complicado, devemos ter consciência clara do nosso papel, lugar, campo de atuação com nossas possibilidades e impossibilidades. Devemos nos situar. Ter cuidado com o furor terapêtico. É importamente que percebemos a hora de demandar o paciente para outro campo de tratamento caso seja necessário, ou seja, delimitar nosso campo de trabalho. O objetivo do manejo da clínica é: colocar o sujeito implicado com suas questões, para se haver com elas e conseguir largar o dependência das drogas.