domingo, 28 de agosto de 2011

A ilusão de um futuro

A ilusão de um futuro
Um embate amigável com o prof. Dr. Sigmund Freud*
Oskar Pfister*

Caro professor,

Com a amabilidade com que me acostumou nestes dezenove anos de trabalho conjunto, o senhot declarou que seria desejável que eu apresentasse ao público meus argumentos contra o livreto O futuro de uma ilusão, e com uma liberalidade que é natural para sua forma de pensar, colocou à minha disposição para esta finalidade um dos periódicos editados pelo senhor. Agradeço-lhe afetuosamente por esta nova prova de amizade, que não me surpreendeu de modo algum. Desde o princípio o senhor não fez nenhum segredo a mim e a todo mundo acerca da sua decidida incredualidade, de modo que sua profecia atual de um futuro sem religião não traz nenhuma nenhuma novidade. E o senhor há de sorrir diante do fato de que considero o método psicanálitico criado pelo senhor um meio grandioso para depurar e desenvolver a religião, assim como o senhor sorriu no tempo da carestia, quando caminhávamos em meio às nevadas pelas trilhas de Beethoven nos altos de Viena e mais uma vez não conseguíamos convencer um ao outro neste ponto, como já em anos anteriores, por mais prontamentemente que em outras ocasiões eu sentasse a seus pés, repleto dos tesouros e bênções de sua riqueza de espírito.
Seu livro significou para o senhor uma necessidade íntima, um ato de honestidade e de coragem confessional. A titânica obra da sua vida inteira teria sido sem destroçar as imagens de ídolos, mesmo que estivessem situadas em universidades ou átrios de igrejas. Cada pessoa que desfruta da felicidade de estar próxima do senhor sabe que pessoalmente o senhot serve à ciência com veneração e fervor, pelo que seu gabinete é elevado a templo. Dito francamente: tenho a firme suspeita de que o senhor combate a religião - a partir da religião. Schiller lhe estende calorosamente a mão fraterna; será que o senhor a recusará?
Ainda mais do ponto de vista da fé, não vejo nenhum motivo para concordar com a gritaria de alguns vigilantes de Sião. Afinal, quem lutou de modo tão gigantesco pela verdade e brigou tão heroicamente pela redenção do amor, este é, quer queira sê-lo ou não, segundo os parâmentros do evangelho, um fiel servo de Deus. E não está longe do reino de Deus quem, pela criação da psicanálise, elaborou o instrumento pelo qual são serradas as cadeias das almas sofredoras e são abertas as portas do cárcere. Desse modo podem correr à terra ensolarada de uma fé vivificante. Jesus contou uma bela parábola de dois filhos, dos quais um, prometendo obedientemente ir à vinha do pai, não mantém a palavra, e o outro, rejeitando obstinadamente a ordem arbitrária do pai, ainda assim cumpre o mandamento (Mt 21,28ss). O senhor sabe com quanta alegria o fundador da religião cristã prefere o último. O senhor guardará rancor de mim pelo fato de que, apesar de sua pretensa descrença, eu o veja figuramente mais próximo do trono de Deus - o senhor, que colheu tão maravilhoso raios da luz eterna e se desgstou na luta pela verdade e pelo amor aos homens - do que a muito clérigo murmurrador de orações e realizador de cerimônias, cujo coração nunca ardeu pelo conhecimento e bem-estar humano? E, como para os cristãos orientados no evangelho tudo o que importa é fazer a vontade divina e não o dizer "Senhor, Senhor", compreende o senhor que também eu queria invejá-lo?
Não obstante, volto-me com toda a determinação contra sua apreciação da religião. Faço-o com a modéstia conveniente ao inferior, mas também com o contentamento com que se defende uma causa santa e amanda, e com o rigor da verdade, que foi fomentado por sua austera escola.
Contudo, faço-o também na esperança de que ficaram refratários à psicanálise com a rejeição da fé religiosa pelo senhor, voltem a contrair amizade com essa ciência, como método e síntese de reconheciementos empíricos.
Por consequência, não viso a escrever contra, mas a favor do senhor, pois que vai para as barricadas em favor da psicanálise luta pelo senhor. Entranto luto igualmente a seu lado; pois não há nada mais firme em seu coração, como no meu, do que derrotar a ilusão através da verdade.
Um tribunal superior decidirá se o senhor com o seu O futuro de uma ilusão, ou eu com A ilusão de um futuro chegamos mais perto do idela. Nós dois não nos cingimos com o manto de profeta, mas nos contetamos com o papel mais humilde do meteorologista; embora também meterologostas possam se enganar.
Com afetuosas saudações,
seu Pfister

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