domingo, 28 de agosto de 2011

Impertinências

Texto de Francisco Paes Barreto, de Belo Horizonte, que figura na "home" da Escola Brasileira de Psicanálise (wwww.ebp.org.br). Enviado pelo prof. Robson Campos da pós em Psicanálise.
Boa leitura a todos.

Impertinências

Pergunta:
Em que condição o psicanalista sugere o uso de antidepressivo?

Resposta:
É uma constatação: os psicanalistas, quase que sem exceção, encaminham analisantes para serem medicados por psiquiatras, em algumas situações. O que não quer dizer que seja um procedimento bem definido e resolvido; pelo contrário, trata-se de algo sobre o qual pouco se escreve, pouco se formaliza. O que se segue são algumas de minhas reflexões sobre o tema.
Tomarei o exemplo da depressão, que, para a psicanálise, é um sintoma. Ela pode ser abordada pela vertente sofrimento (que a psicanálise chama de gozo do sintoma) ou pela vertente do enigma (a pergunta, ou aquilo que faz questão para o sujeito: o que é que está acontecendo comigo? Por que é que algo comigo não funciona, não anda?).
Quem apresenta o sintoma pode querer, única e exclusivamente, se livrar do sofrimento que ele acarreta. é a demanda terapêutica.
Uma demanda de análise pressupõe, além da expectativa de alívio, que se queira levar a sério o enigma do sintoma, ou seja, que se busque um saber sobre o enigma do sintoma. Um pergunta, agora, se insinua: por que, nesse contexto, indicar um psiquiatra para a medicação antidepressiva?
Creio haver uma única resposta: quando o analista considera que, mais do que contribuir para os propósitos de uma análise, o sofrimento de uma depressão está servindo para dificultá-los, ou mesmo para travá-los.
Pode ser uma conclusão simples, mas, é decisiva. Acaba, de vez, com o preconceito segundo o qual a psicanálise e psicofármaco são inconciliáveis.
O problema, porém, continua: que psiquiatria indicar fazê-lo? Sério problema! Terá que ser um psiquiatra que concorde com, pelo menos, dois pontos básicos. (1) O lugar do psicofármaco: não é de ator principal, mas de coadjuvante. (2) A função do psicofármaco: não se trata de "eliminar o sintoma", mas de moderar o gozo.
As exigências mencionadas sugerem que se deva indicar um psiquiatra que esteja em análise, quando não houver um psiquiatra psicanalista. Existe ainda a possibilidade de a análise estar sendo conduzida por um psicanalista que é também psiquiatra. Ele pode fazer duas coisas, desde que saiba o que está fazendo (ou de que lugares está operando) e o analisante também. O medicamento pode não ser anti-analítico, mas é não analítico.
O que estou propondo foi, a meu ver, entrevistado por Freud, que, certa feita, afirmou: "Esperamos que o futuro nos ensine a agir diretamente, com a ajuda de substâncias químicas,sobre a quantidade de energia e a sua distribuição no "aparelho psíquico". É possível que descubramos, então, outras possibilidades terapêuticas, ainda insuspeitas". Ora, o que Freud propõe é o psicofármaco como regulador do gozo.
Na minha apreciação, o futuro previsto já há algum tempo chegou.
Francisco Paes Barreto

Nenhum comentário:

Postar um comentário