quarta-feira, 21 de setembro de 2011

QUEM É PSICANALISTA?
Wilson Amendoeira
Qual o interesse desta questão para uma pessoa comum que folheia o seu jornal? A psicanálise não é um artigo de consumo para uma elite intelectualizada e com alto poder aquisitivo, ou para madames que procuram preencher o seu tempo ocioso? O psicanalista não é um profissional que ganha rios de dinheiro e vive olimpicamente afastado das agruras do mundo que o cerca?
Idéias pré-concebidas e distorcidas não faltam e, apesar disso, elas ajudaram a fazer da psicanálise uma das grandes influências na nossa cultura.
A Psicanálise foi criada por Sigmund Freud em fins do século XIX. Ele definia a Psicanálise como um procedimento para a investigação do sofrimento mental, que seriam inacessíveis por outros meios, além de um método para o tratamento de distúrbios neuróticos, compondo um corpo de conhecimentos psicológicos que se acumulava nesta nova disciplina científica. A sua aplicação mostrou ser um instrumento poderoso para ajudar o homem a lidar com os distúrbio emocionais e com o seu sofrimento.
Seus conhecimentos estão incorporados em todas as áreas da cultura contemporânea, com suas aplicações nas esferas social, científica, cultural, educação de crianças e processos de aprendizagem. No campo da cultura popular podemos verificar, nos dias de hoje, sua influência e difusão pelos termos e noções psicanalíticas incorporados ao nosso cotidiano: atos falhos, projeção, complexo de Édipo, superego são termos ou noções que, embora muitas vezes imprecisamente, estão implantados e presentes nas novelas, no talk-show da televisão, no comentário esportivo do cronista.
Preocupado com o destino de sua criação Freud patrocinou, em 1910, a fundação de uma associação internacional - a International Psychoanalytical Association - que integrasse os vários grupos psicanalíticos então existentes, criasse normas para a formação de futuros analistas e evitasse distorções e descaminhos na Psicanálise, com a expansão de sua prática. Aqui, no Brasil, os filiados à esta associação internacional são membros das sociedades e grupos de estudo representados pela Associação Brasileira de Psicanálise (ABP).
Há cerca de 90 anos a formação para psicanalistas está baseada em três atividades complementares e indissociáveis entre si: a análise pessoal, os cursos teóricos e o acompanhamento dos tratamentos feitos pelo iniciante.
Este modelo configura a formação como um ofício, e o psicanalista aprende e ganha qualificação em oficinas - os institutos de formação - onde, artesanalmente, no contato com analistas mais experientes, desenvolve sua análise pessoal, realiza seus seminários para o aprendizado teórico e técnico e tem o seu trabalho, com os pacientes iniciais, supervisionado. Os psicanalistas formados por nossas federadas levam cerca de oito anos para completar sua formação; em 49 anos formamos 980 analistas e temos cerca de 800 psicanalistas em formação em nossos Institutos de Ensino, espalhados em oito estados da federação.
A constante e persistente pesquisa do próprio inconsciente faz da formação de cada psicanalista um processo praticamente interminável, que se amplia no seu diálogo com os textos clássicos e com os produzidos por outros analistas, confrontados com a sua experiência pessoal na relação com seus analisandos, mesmo quando já está qualificado como psicanalista. Esta qualificação, portanto, foge aos modelos que podem sofrer algum tipo de certificação por instituições de ensino ou órgãos reguladores públicos; se existe um indicador ele será, certamente, o de qual é a instituição que forma, quem são seus componentes, que padrões são seguidos.
A partir dos anos 60, gradualmente, este campo vai se expandindo e surgem outras instituições, fora da International Psychoanalytical Association, que se propõe a formar analistas, com variações nos requisitos e na modelagem do processo de formação, mas mantendo os princípios gerais como estabelecidos no início do século passado e ampliando a parcela dos profissionais, filiados a várias outras escolas, que se dedicam ao estudo e à prática da Psicanálise.
Ao longo dos anos este campo estabeleceu e mantém suas tradições, com uma prática onde se preserva o patrimônio da psicanálise e onde se organiza um campo de assistência, representado pelo tratamento às pessoas que nos procuram.
Por estes motivos a psicanálise não é regulamentada como profissão no Brasil e em nenhum outro país. Mesmo entre os psicanalistas existem muitas controvérsias e discussões, embasadas no processo de formação e na natureza do exercício da prática terapêutica, sobre as possibilidades de sua regulamentação.
No momento está na ordem do dia mais uma destas tentativas: o Projeto de Lei nº 3.944 de 13 de dezembro de 2000, de autoria do deputado Eber Silva, do Rio de Janeiro.
A partir de premissas equivocadas estipula procedimentos e subordinações incompatíveis com a essência do ofício e da formação de seus profissionais, abrindo mão do que consideramos o passo inicial de qualquer tentativa séria de abordar esta questão – ouvir a comunidade de psicanalistas brasileiros, através das Sociedades e entidades que os formam e representam.
Penso que este passo é um valor a ser sopesado na constituição de uma regulação do campo psicanalítico. Até o momento foi eficaz a nossa reação às tentativas de regulamentação da atividade; o que precisamos avaliar é se, em outras correlações de forças e interesses, não seremos prejudicados em nossa capacidade de enfrentamento ou enfraquecidos pelo desgaste provocado, em nós mesmos, pela repetição das tentativas e pela imensa energia e tempo que despendemos em cada uma delas.
Apesar das controvérsias e discussões, entre os psicanalistas, sobre as possibilidades de sua regulação, pensamos que podemos alcançar um projeto que esteja centrado neste reconhecimento: uma entidade supra-institucional, constituída de representações dos vários campos e escolas psicanalíticos, que credencie instituições que atendam os padrões a serem estabelecidos em conjunto e que torne pública a relação de instituições que são reconhecidas por ela como formadoras de psicanalistas.
A ABP está associada com as entidades representativas que formam este campo e que assumem plenamente o compromisso com a sociedade e com a população, buscando proteger o que sabemos ser o importante e essencial para todos nós – a psicanálise brasileira.

http://www.abp.org.br/jornalc.htm
Comissão de Comunicação pela Internet (CCI) - e-mail: cci@abp.org.br

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