quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Psicanálise e Psicomotricidade

Texto da autoria de Suzana Veloso Cabral, psicomotricista.

Psicanálise e Psicomotricidade
 1948 AJURIAGUERRA e DIATKINE integram: ·  Psicologia do desenvolvimento – Piaget e Wallon ·  Fenomenologia de Merleau Ponty ·    Psicanálise – Freud.
O inconsciente de Freud é o conceito que cria a Psicanálise e causa a terceira ferida narcísica da humanidade. As duas primeiras foram a revolução de Copérnico, que descentrou o mundo, e a de Darwin, que revelou a espécie humana como animal.
Antes de Freud a Psicologia e Filosofia concebiam a subjetividade una, identificada com a consciência, sob domínio da razão. O desejo era perturbação da ordem, modificava o pensamento e o tornava inadequado à realidade, pois o desejo introduz deformações no material de conhecimento e gera erros.
O inconsciente e o desejo  provocam a clivagem da subjetividade. Há duas ordens distintas: -  o sujeito do desejo, inconsciente, cuja verdade não é da ordem do racional e do conhecimento, - o sujeito do conhecimento, racional, consciente.
A psicanálise lida com o sujeito do desejo, permite a singularidade do indivíduo e oferece um lugar onde o discurso individual pode ser escutado. Explicita-se a lógica, sintaxe, modo de funcionamento do inconsciente e o desejo que o anima.
Os conceitos centrais da psicanálise são: • Inconsciente • Desejo • Transferência (correlato do inconsciente na prática clínica) • Pulsão (articulação do psíquico e somático)

O corpo é libidinal. Há zonas erógenas com investimento libidinal que se implicam na evolução do movimento e da atividade perceptiva. Agir e perceber são  função do Ego.
Schilder integra o corpo libidinal na noção de esquema corporal.
Os problemas motores e perceptivos podem ser psicogênicos (histeria), psicossomáticos ou psicomotores (não há organicidade e há dificuldade de simbolização). Spitz fala da carência afetiva  precoce e do hospitalismo com atraso do desenvolvimento psicomotor.
Na psicomotricidade ocorre num primeiro momento a ênfase no corpo pulsional, libidinal, substrato e revestimento do corpo funcional. A energia afetiva impulsiona a evolução psicomotora.
1925 – Primeira Sociedade de Psicanálise com membros franceses e estrangeiros, mas sem nenhum autor influente. 1930 – Melanie Klein é convidada por Jones para a Sociedade Britânica de Psicanálise e cria a Psicanálise Infantil com primeiro livro publicado em 1932 e a técnica do brincar sobre a qual cria polêmica com Anna Freud. Ela fala de objetos internos, imagos parentais, superego primitivo e início do Édipo no primeiro ano de vida, amor/ódio e seio bom/mau.
1950 – Winnicott questiona o excesso de imaginário de Klein e fala do ambiente e maternagem suficientemente boa (mãe capaz de ilusionar e gradativamente dar a desilusão necessária à evolução do bebê). Surge o espaço potencial entre ela e o filho, com os objetos transicionais.  Há um discurso que envolve a criança mesmo antes de nascer (desejo da mãe) e presença precoce do pai, pois a mãe o veicula quando se afasta do filho para estar com o marido.
1950/53 – Florescimento do movimento psicanalítico na França e surge Lacan, que tem influência estruturalista e relendo Freud cria os conceitos imaginário/simbólico/real. Reafirma o Édipo como fundador do inconsciente. Enfatiza o desejo, o outro, o sujeito do inconsciente. O meio médico francês aceita uma psicanálise mais tradicional e Lacan cinde com ela, criando a Sociedade Francesa de Psicanálise, junto com Dolto e Lagache, e depois cria nova cisão, criando a Escola Freudiana de Paris.
Entre 1970 e 80 há influência da nova leitura da psicanálise sobre a psicomotricidade. Diatkine e Lebovici integram os conceitos de Lacan e os publicam em livros que tratam também da teoria da psicomotricidade e participam das Jornadas anuais de Psicomotricidade promovidas pelo recém criado sindicato de Psicomotricistas.
Há a partir daí grande produção teórica de psicanalistas sobre a psicomotricidade: Jolivet, Gibello, Jean Daniel Stucki, Danielle Flagey, Pierre Barrès e Sami-Ali. Os psicanalistas também dão supervisão a psicomotricistas, mas determinam uma diferença entre os dois atendimentos: ·         O uso da linguagem: os psicomotricistas não interpretam e nem intervém verbalmente. ·        A transferência é reconhecida, mas não trabalhada diretamente na terapia psicomotora.
1974 – É a grande virada da Psicomotricidade. Enfatizam-se a relação e a transferência. Fala-se em fantasias, fantasmas, projeções, atividades livres psicomotoras simbólicas e atividades tônico-motoras expressivas, saindo do uso puramente instrumental e funcional das atividades corporais.
Os psicomotricistas compreendem o papel do corpo nas formações do inconsciente: “o corpo é justamente a fonte biológica de todas as pulsões, o centro das relações infantis com a mãe, o lugar onde se inscrevem as pulsões que não têm acesso à palavra” Jean Claude Coste
A psicomotricidade enfocando a relação começa a trabalhar com o jogo simbólico e com as fantasias “marcadas” no corpo funcional.

2 comentários:

Anônimo disse...

Achei interessante encontrar um antigo texto meu publicado na atualidade! Pode entrar em contato comigo sucabral@uol.com.br Suzana Veloso Cabral

Anônimo disse...

Gostei do apanhado histórico!! parabéns!!

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